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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Política

O Povo, esse que continue a morrer à fome
O BCP, aquela impoluta instituição bancária das ocidentais praias socialistas a norte (embora cada vez mais a sul) de Marrocos, vendeu a posição de 9,69 por cento que detinha no capital do BPI à Santoro Financial Holdings, sociedade que pertence à empresária Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos, Presidente da República de Angola.

Tirando o facto de trinta e três anos depois, a maioria dos angolanos continuar a passar fome, continuar a ser gerada com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois... com fome, até aplaudo a compra.

Creio até que que o próprio Governo do soba Sócrates deveriar transformar-se numa sociedade comercial para que, quando fosse preciso, o democrata presidente de Angola, pela mão da filha ou de um outro qualquer sipaio, comprar uma participação.

A empresária angolana pagou 1,88 euros por cada acção do BPI, tendo já um prémio de 33,3 por cento face ao valor do fecho de quarta-feira das acções (1,41 euros). O valor total pago pela posição foi de 164 milhões de euros.

164 milhões de euros. Coisa pouca. Aliás, tirando o facto de trinta e três anos depois, a maioria dos angolanos continuar a passar fome, continuar a ser gerada com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois... com fome, até me parece um negócio limpo, limpinho e digno do MPLA.

Uma vez que a Santoro Financial Holdings já detém uma participação de 25 por cento no capital social do Banco BIC Portugal, instituição de crédito portuguesa de capitais maioritariamente angolanos, Isabel dos Santos reforça assim a sua presença no sector bancário português.

É assim mesmo. Por alguma coisa o primeiro-ministro de Portugal foi, antes das eleições, lamber as botas de Eduardo dos Santos, elogiando a sua alta capacidade e legitimidade democrática para comandar um Estado de Direito.

Além disso, o investimento no BPI permitirá ainda à empresária angolana estreitar as relações com a instituição, que recentemente abriu o capital do Banco Fomento Angola (BFA) à operadora de telecomunicações angolana Unitel (que tem Isabel dos Santos entre os seus accionistas de referência).

Tudo em família e na santa paz da hiprocrisia, cobardia, mesquinhez e prostituição moral da comunidade internacional. Mas o que conta é isto. O resto, o Povo, esse que continue a morrer à fome.

A par do Millennium BCP, que tem como principal accionista a petrolífera estatal angolana Sonangol, o BPI torna-se o segundo grande banco nacional a contar com investimentos angolanos no seu capital.

Tirando o facto de trinta e três anos depois, a maioria dos angolanos continuar a passar fome, continuar a ser gerada com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois... com fome...

Mas isso pouco importa. O relevante é a filha do presidente da República e do MPLA (partido que desgoverna Angola há 33 anos), José Eduardo dos Santos, ter gasto apenas 164 milhões de euros para comprar uma posição no BPI.

Técnicos e especialistas do MINFAMU estiveram durante 45 dias no mercado “Roque Santeiro”, o maior do país, localizado no município do Sambizanga. Segundo a conclusão do trabalho, pessoas recorrem diariamente a este mercado, onde conseguem obter restos de produtos quase ou totalmente degradados para subsistirem.

Quantas pessoas poderiam ser alimentadas dignamente com, é apenas um dos muitos exemplos, os 164 milhões de euros? Mas o que é que isso interessa?

Em declarações à rádio LAC, Damásio Diniz, consultor do MINFAMU, afirmou que há “um número considerável” de pessoas que vivem nessas condições, mas sem quantificar. “Para a realidade do país e da cidade de Luanda é um número considerável e é uma pena, mas é a realidade”, disse.

Diniz frisou que as famílias nessas condições são pessoas que estão “abaixo do nível médio de pobreza”, sem qualquer tipo de subsistência económica.

“São pessoas que não têm nada e vêm contactar as vendedoras que lhes vendem a um preço módico os produtos que vão jogar fora. E essas pessoas compram para fazer uma refeição e dar de comer à família. Há muita gente aqui na cidade de Luanda que sobrevive nessas condições”, afirmou.

Quantas pessoas poderiam ser alimentadas dignamente com, é apenas um dos muitos exemplos, os 164 milhões de euros? Mas o que é que isso interessa?

Maria Cangombe é uma das pessoas que diariamente se desloca ao mercado Roque Santeiro em busca de restos de produtos para sustentar sua família.“Eu estou aqui no Roque a apanhar estas folhas para sustentar as crianças lá em casa. Estou aqui todos os dias porque não há dinheiro”, disse a mulher, citada pela LAC.

“Saio todos os dias cedo de casa e falo com as senhoras que vendem. Muitas vezes passamos o dia em casa com as crianças sem nada para comer. É melhor vir fazer isto do que ficar sem comer nada”, lamentou.

Vários relatórios sobre Angola indicam que o crescimento económico que o país tem registado não se reflecte na melhoria das condições de vida da população angolana. Que novidade!

O relatório “Perspectivas Económicas para África 2008”, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), divulgado em Maio, mencionava que o governo angolano tem sofrido “pressões” para que o crescimento da economia angolana se traduza em benefício do nível de vida da população.

Pressões que resultam em nada. Mas enquanto isso, Isabel dos Santos fez mais um dos muitos negócios que o clã Eduardo dos Santos protagoniza, gastando apenas 164 milhões de euros.

Coisa pouca, obviamente.

QUERO, POSSO E MANDO

QUERO POSSO E MANDOPartindo de duas premissas erradas, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) questiona a transparência dos investimentos chineses em Angola, e lamenta que a Assembleia Nacional desconheça os motivos da visita do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, àquele país.


Ora transparência é coisa que não existe nos negócios dos chineses, sobretudo quando feitos com ditaduras como a do MPLA. Além disso, essa peregrina ideia de que a Assembleia Nacional deveria conhecer os motivos da visita só funciona nos regimes democráticos. Coisa que, obviamente, Angola não é.

O porta-voz do maior partido da oposição angolana, Adalberto da Costa Júnior, afirmou que o Estado angolano deve assumir a normalidade no seu funcionamento institucional e não ficar refém das decisões de apenas um órgão de soberania (Presidente da República). Deveria ser assim se, repito, Angola fosse um Estado de Direito, fosse uma democracia.

“A Assembleia Nacional não sabe nada acerca desta visita e isto não é normal. Temos de encontrar outras formas de funcionar, ultrapassando o medo”, salientou Adalberto da Costa Júnior. Pois é. Mas se não fosse o medo, alguma vez o MPLA tinha vencido as eleições de Setembro?

“Oficialmente, não temos conhecimento das razões estratégicas que estão na base desta visita, embora seja importante que os países se inter-relacionem, mas o povo tem que saber com que linhas se cose o seu futuro e neste momento está no escuro”, frisou o porta-voz da UNITA.

O povo? Mas o MPLA quer saber do povo para alguma coisa? Apenas quis saber dele quando foi obrigado a fazer com que ele, cheio de medo, colocasse os boletins de voto nas urnas. A partir daí, o povo deixou de existir.

Para o maior partido da oposição, a China tem sido acolhida como o país que está empenhado na construção de Angola, mas a presença “elevadíssima” de cidadãos chineses no país requer um debate, uma vez que se perspectiva o seu aumento em centenas de milhares de pessoas.

Já é tarde, meu caro Adalberto. Agarrado aos oitenta e tal por cento dos votos, o MPLA limita-se a dizer: quero, posso e mando. E assim sendo, perante a passividade e cobardia da comunidade internacional, vai continuar (tal como faz há 33 anos) a ditar as regras do jogo.

O Presidente angolano iniciou segunda-feira uma visita oficial de quatro dias à China, tendo em vista o reforço da cooperação bilateral com o gigante asiático e principal parceiro económico de Angola.

Em Angola todos os caminhos vão dar a Eduardo dos Santos

JESManuel Vicente é vice-presidente da Fundação Eduardo dos Santos e presidente da Sonangol. José Leitão foi chefe da Casa Civil da Presidência da República e tem a "holding" GEMA que é sócia da Central de Cervejas e da Escom na fábrica de cimentos Palanca. Já Isabel dos Santos é filha de Eduardo dos Santos e possui interesses empresariais que vão dos diamantes à banca, passando pelas telecomunicações.

E a lista continua. João de Matos foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas e tem a empresa Genius, com interesses referenciados nas minas, electricidade e Bellas Shopping Center.

José Pedro Morais (ex-ministro das Finanças), Kundi Paihama (ministro da Defesa) e Pedro Neto (Estado-maior da Força Aérea) partilham a Finangest, 'holding' com interesses nos transportes, construção e segurança.

Mais ainda. Higino Carneiro (ministro das Obras Públicas) é tido como accionista da Sagripek, com actividade da agricultura e agro-indústria. Desidério Costa, ex-ministro dos Petróleos é sócio da Somoil, a primeira empresa privada a entrar na exploração de petróleo. E Noé Baltazar, ex-presidente da Endiama, tem interesses nos diamantes, alguns dos quais em associação a Isabel dos Santos.
O que liga todas estas figuras? A resposta é óbvia - as ligações ao poder. Todos os grupos foram construídos numa lógica de maior ou menor proximidade a José Eduardo dos Santos, que ocupa a presidência do país desde 1979.

Num quadro de guerra civil, e de manutenção do MPLA no poder, política e negócios misturaram-se fatalmente. Mas entre as inúmeras ligações referidas de actuais ministros e ex-governantes que aproveitaram os cargos políticos para criarem grupos privados, são nulas as ligações directas a José Eduardo dos Santos.

Do Presidente da República sabe-se apenas que confia uma boa parte da gestão do património da família a Isabel dos Santos.

A par desta relação filial, o líder angolano tem outras figuras que fazem parte do seu círculo de confiança. Uma delas é Manuel Vicente, o presidente da poderosa Sonangol e tido como um eventual sucessor de Eduardo dos Santos. Outro é Noé Baltazar, ex-Endiama. E a estes juntam-se históricos do MPLA como Kundi Pahiama e Higino Carneiro.
A partir do Palácio da Cidade Alta, o Presidente da República comporta-se sobretudo como um gestor de sensibilidades, atento a todos os movimentos. E ao que se diz tem sido um dos defensores da aproximação de Angola a Portugal, contrariando parte da nomenclatura do país.

E por isso, esta entrada de Isabel dos Santos no BPI é também um sinal político para o interior de Angola

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